Sem título, sem rumo



    Esse texto eu escrevi em 2017 em uma prova de redação e recebi uma nota relativamente baixa, até hoje acho injusto porque adorei tudo o que eu consegui colocar no papel em uma hora e meia. Todo ano eu o pego pra ler e acrescentar mais um pouquinho de mim; eu realmente gosto muito desse texto. Espero que gostem :) 

SEM TÍTULO, SEM RUMO 

Levava comigo todos meus pertences, cada objeto era uma  lembrança de algo que me ocorrera. Eles eram meu passado, minhas memórias, tudo que tinha vivido até aquele momento. Parada ali na estação de trem, repensava se ir embora era o certo ou deveria ficar e lutar por aquilo que queria.

Embarquei, mesmo com as dúvidas, tarde demais para voltar atrás. Minhas bagagens, de tanto carregá-las, começaram a pesar em minhas mãos, por isso as apoiei no chão escuro e velho da cabine do trem. A janela por mais que fosse suja, era enorme e a vista era demasiadamente bela, mas me lembrava o grande amor que deixei para trás.

Passamos por um campo de trigo que balançava levemente por causa do vento. Lembrou-me dos cabelos soltos e longos cor de mel que ela tinha, e que se movimentavam lentamente em cada passo. Desviei meus pensamentos; não poderia continuar com aquilo, fui embora, sem dizer tudo aquilo que realmente gostaria. Fui sufocada pelos meus próprios medos de perdê-la ou de nunca conseguir conquistar seu amor e fui obrigada a seguir em frente.

Desci na segunda estação, era um tanto quanto escura, sem muitas janelas e com pessoas vestidas de preto. Os trilhos estavam enferrujados de tantos trens que passavam sem parar, a cada desembarque uma nova pessoa solitária descia de dentro dele. Estando ali em uma estação cheia de pessoas vazias fazia com que não me sentisse só. Meu trem tinha chegado e logo me vi sentada em uma outra cabine, solitariamente. Dessa vez a janela era pequena, quase não dava para ver o que passava. O trem era mais aconchegante que o outro, os estofados eram vermelhos, que contrastavam com o piso marrom. Possuía um compartimento em cima da cabine onde pus todos meus pertences. Fiquei o resto da viagem perdida em devaneios.

Desembarquei na última estação com minha bagagem em mãos. A estação era linda, feita de vidro quase não dava para diferenciar o que era céu e o que era teto. A luz dava um ar quase de alegria ao ambiente, tornando tudo belo. Pessoas se reencontravam depois de tanto tempo separadas, famílias, amores, amigos... Chegou meu último trem, aquele que me levaria ao meu destino. Por dentro era tão encantador, que não dava para pensar em outra coisa que não fosse o próprio trem. As janelas, ricas em detalhes, eram decoradas em dourado, o teto, tinha imagens de anjos festejando e tocando instrumentos.  Quase como em um piscar de olhos, tinha chegado aonde devia.

Descendo do trem percebi que minha bagagem não pesava tanto quanto antes, era mais fácil agora de caminhar. Atravessei a estação com passos firmes em direção a saída. Cheguei ao lado de fora e entrei em um taxi:

- Para onde, senhora?

- Rua Presente.

Naquele novo destino, percebi que seria diferente, pois dessa vez, não olhei para trás.

Comentários

  1. Que texto mais lindo, cara. A descrição per-fei-ta das estações, eu adorei muitooo....
    Nunca gostei das avaliações da escola rsrs

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  2. Quem era o professor??? Péssimo! Eu ameiii esse texto! Criei teorias com essas estações, olha lá no whats! Maravilhosa e profunndaa, Caroline!!!

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  3. carolll!!! amei lembrar desse texto!❤️❤️❤️

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